Noiva vai a hospital para que amiga internada participe de casamento
Dois anos após a técnica em enfermagem Reginalda Matilde de Moraes conhecer seu marido, Geovane Donizete, em 1998, ela começou a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de Passos (MG).
É lá que começa a história de amor que o blog conta abaixo. Um amor entre duas amigas: Reginalda e Fatinha.
O ano era 2000 e Fatinha trabalhava na mesma ala do hospital e exercia a mesma função de Reginalda. Logo que se conheceram, houve uma forte identificação. Passaram até a frequentar a mesma igreja e a amizade só cresceu.
O relacionamento de Reginalda com Geovane também se fortaleceu e eles foram morar juntos. Fatinha sempre acompanhou a vida do casal.
Tudo continuou igual até 2010, quando Fatinha começou a sentir dores nas pernas e também na coluna. Após procurar ajuda médica e fazer muitos exames, descobriu uma doença rara e degenerativa, a síndrome de Devic.
Assim que recebeu o diagnóstico, a técnica em enfermagem ficou apavorada, primeiro por não ter ideia do que era e depois por entender que, com o tempo, poderia perder a força dos membros e sofrer com atrofias.
Fatinha iniciou o tratamento após ter as pernas afetadas pela síndrome. Em seguida, veio o afastamento do trabalho. Ainda que a convivência diária entre as amigas tivesse sido interrompida, a amizade ficou mais forte.
Sempre que estava na casa de Fatinha, Reginalda observava que, embora as dificuldades aumentassem, a amiga nunca se questionava “por que ela?” e mantinha-se animada.
Oito anos se passaram desde diagnóstico da amiga e Reginalda resolveu que era a hora de oficializar o relacionamento com Geovani do jeito que sempre sonhou. Uma das maiores apoiadoras foi Fatinha, endossando que estaria presente na cerimônia.
“Na época, quando comecei a planejar o casamento, Fatinha andava com andador e já combinamos entre as amigas quem iria buscá-la. Só que de lá para cá ela teve crises e uma delas a levou para a UTI. Lá foi feita uma traqueostomia e ela passou a usar um respirador mecânico. Nas nossas conversas, a partir de então, ela mais nos ouve e tenta se comunicar mexendo os lábios”, conta Reginalda.
A data do casamento se aproximava e Reginalda sabia que a amiga não conseguiria mais ir à festa. Diante do impasse, a noiva teve uma ideia e resolveu conversar com o fotógrafo Paulo Júnior Nascimento, da Moving Fotografia e Cinema.
Eles combinaram de ir até o hospital no dia do casamento para registrar o encontro entre elas um pouco antes da cerimônia começar.
No grande dia, então, Reginalda foi para o salão de beleza. A ideia era sair de lá com antecedência para tentar ir ao hospital antes de se dirigir à cerimônia. Enquanto se arrumava, recebeu uma surpresa de suas amigas de trabalho. Elas se juntaram em uma vaquinha para ajudar os noivos na viagem de lua de mel. A lista de assinaturas contava com o nome de Fatinha. “Aquilo mexeu muito comigo, só que eu não apressei a cabeleireira, e, mesmo assim, fiquei pronta antes”, relembra.
Reginalda e o fotógrafo partiram rumo ao hospital. Chegando lá, além de receber os olhares curiosos das pessoas, ela superou um trauma pessoal: “Eu, que tenho fobia de elevador, entrei em um para chegar até a Fatinha”.
O encontro não poderia ter sido mais emocionante. “Quando ela me viu, foi uma surpresa muito grande, ela não conseguia crer que eu estava ali no dia do meu casamento. Ela repetia que não acreditava e que me amava muito. E eu dizia que ela é minha família e que eu queria muito que ela fizesse parte do meu álbum. Jamais pensei que ela fosse ficar tão agradecida, ela é muito especial para mim”, declara a noiva.
Para o fotógrafo que acompanhou a noiva, “é lindo ver o amor e a cumplicidade de duas pessoas que têm os corações ligados, assim como no matrimônio”.
Após viver momentos de grande emoção com a amiga, o dia 11 de janeiro de 2020 ainda ficou marcado como a data em que Reginalda realizou seu grande sonho após 22 anos de união com Geovani: um casamento com direito a “tudo do bom e do melhor”.
“Foi uma felicidade muito grande, eu aluguei um espaço ao ar livre do jeito que eu queria, corri atrás de tudo, do cerimonial à decoração. Como precisei ir a São Paulo, já comprei o tecido do vestido de noiva e pedi para uma costureira de Passos para fazer o modelo do jeito que eu desejava, cheio de detalhes, enfim, até hoje estou maravilhada”.
Reginalda diz que quando o blog entrou em contato, ela foi até o hospital pedir a autorização da amiga para contar a história e publicar as imagens. “Fatinha sorriu e brincou que ela iria enfeiar minhas fotos e aí eu disse que as imagens eram nossas e que iríamos guardar eternamente. Minha amiga ficou muito feliz. Não é porque ela está naquele hospital que deixou de ter o sorriso mais puro e sincero”, emociona-se.
Um mês após a festa, a técnica de enfermagem continua se revezando entre seus dois empregos, na Santa Casa e na UPA de Passos, e afirma que Fatinha permanece no hospital, fazendo pulsoterapia, comunicando-se por meio de sinais e superando um dia após o outro. “Entendo tudo o que ela quer dizer, porque a amo muito”, diz Reginalda.